sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Hegel e o paradoxo finito-infinito

             Há quem considere que o grande tema da filosofia de Hegel é o problema da dissolução do finito e o problema da identidade entre o real e o racional. E, neste sentido, o problema central desta relação finito-infinito assentaria sobretudo na ideia de que, a única verdadeira realidade das coisas é o infinito.
            Hegel pensa que não existe nenhuma realidade para além do finito, desta forma tem de se procurar uma solução para este aparente paradoxo, uma vez que, o que verdadeiramente é, é finito, e que para além do finito não existe nenhuma realidade. O infinito não supera o finito por o fazer ressurgir continuamente e só abstratamente o faz. Esta frase parece querer dizer que temos duas realidades, aparentemente, uma ao lado da outra, ora, Hegel pensa que isso não é possível. E pensa que não é possível porque se nós colocarmos um finito ao lado de um infinito, finatizamos o infinito. Como podemos então conciliar o caráter de perecimento de tudo e a afirmação de que só o infinito verdadeiramente é? Hegel afirma que devemos considerar o finito como mera aparência, significando aparência aqui duas coisas; por um lado aquilo que aparece, e por outro lado aquilo que não tem em si aquilo que verdadeiramente é, ou seja, o seu ser não está em si mas fora de si. O que para Hegel significa que toda a realidade finita é uma manifestação do infinito na finitude. No fundo, as coisas são o que são e simultaneamente aquilo que elas não são. «O que é racional é real, o que é real é racional», ou seja, o que a razão apresenta é da ordem da realidade, manifesta-se na ordem do real, se assim não fosse estaria vedado todo e qualquer acesso do homem à realidade, e por outro lado o real é racional, porque sendo o real percorrido pela razão, necessariamente o ser do real é o da realização da razão e não o inverso. Aqui já estamos perante uma ideia da necessária, da total e da substancial identidade entre a realidade e a razão. Neste sentido, para Hegel, a razão é o princípio infinito auto-consciente, o que significa que é a identidade entre o finito e o infinito, ou seja, se ela é o princípio infinito auto-consciente significa que ela é o processo através do qual ela se volve a si própria, regressa a si própria. Porque a tarefa da razão não é estar naquilo que é estranho a si, é antes estar no seu domínio, «é estar em sua casa».

            Ricardo Carvalho

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