O percurso de fundamentação do
conhecimento em Descartes assenta
naturalmente num mapa conceptual específico. A compreensão do itinerário
cartesiano implica o esclarecimento dos conceitos que lhe são inerentes. Os
conceitos de crença, de realidade, de sujeito e de objeto são nucleares no seu
pensamento pelo que é fundamental promover e garantir a compreensão do seu significado.
E, tendo em conta que o recurso a imagens (gráficas) pode constituir uma forma
criativa e acessível de explorar o significado dos conceitos cartesianos, proponho
uma atividade de correspondência entre uma imagem e o conceito que esta ilustra
ou representa.
Conceito:
REALIDADE
A imagem reflete o dualismo
cartesiano que caracteriza a realidade, de um lado a res cogitans e do outro a res
extensa. Ambas as substâncias são criação do sujeito, só existem a partir
do sujeito, por isso achei interessante a imagem. Para Descartes a realidade é
formada por um dualismo, res cogitans
(substância pensante – o homem), e res
extensa (Substância extensa – o mundo) o mundo físico está determinado pela
extensão (material). Estas são as duas esferas da realidade, que comportam dois
aspetos; o extensivo e o qualitativo. As duas realidades são criadas e
sustentadas pela res infinita (Deus).
1-
Res cogitans
(espírito): substância pensante, imperfeita, finita e dependente.
2-
Res divina
(Deus): substância eterna, perfeita, infinita, que pensa e é independente.
3-
Res extensa
(matéria): substância que não pensa, extensa, imperfeita, finita e dependente.
Conceito: CRENÇA
Os nossos sentidos são muito
enganadores, nem tudo o que vemos é o que parece, e muitas vezes os sentidos
levam-nos a formar crenças falsas, e acho que a imagem reflete bem essa ilusão
dos sentidos. A natureza que se mostra ao homem por meio dos sentidos, é algo
totalmente inseguro. A alucinação, o engano dos sentidos, os nossos erros fazem
com que não seja possível encontrar qualquer segurança no mundo. Agimos muitas
vezes sobre crenças falsas. Então é preciso encontrar um método que nos conduza
a crenças absolutamente verdadeiras, que não deixem margens para dúvidas. No
seu livro Meditações da Filosofia
Primeira, Descartes começa por examinar cuidadosamente todas as nossas
crenças, fazê-lo individualmente seria uma tarefa sem fim, por isso, Descartes
começa por procurar a certeza lançando a dúvida sobre uma classe de crenças no
seu todo.
Conceito: SUJEITO
O sujeito para Descartes é uma
substancia pensante, daí a alusão da imagem, vemos um ponto de interrogação que
simboliza o pensamento e também vemos uma face que simboliza o sujeito. Descartes
supõe que tudo é falso, mas depois conclui que há algo que não pode sê-lo, a
sua própria existência. “Enquanto pensava que tudo era falso, era preciso
necessariamente que eu, que o pensava, fosse algo; e observando que esta
verdade: penso, logo existo, era tão
firme e tão segura que ninguém pode duvidar”. (Discurso do método 4º parte).
Para Descartes nós não somos mais que uma coisa que pensa, mens, cogitatio. Ego sum res
cogitans. Não somos um homem corporal, somos apenas razão, a única coisa
segura na nossa existência é o sujeito pensante.
Conceito: Objeto
Os objetos para Descartes têm
realidade objetiva , esta imagem é interessante porque mostra o corpo (um
objeto), e o mundo ( os restantes objetos), a partir de um sujeito que os está
a pensar. Descartes concluiu que aquilo que pensa (o sujeito) é alguma coisa
diferente daquilo que é pensado (o objeto). Um objeto é um corpo que
se caracteriza pela extensão, pelo movimento e também por um complexo de
qualidades sensíveis. Mas só a extensão e o movimento têm realidade objetiva,
ou seja, existem independentemente do sujeito. As qualidades sensíveis (som,
cor, odor, sabor, etc.) são subjetivas, isto é, só existem na nossa
consciência.
Ricardo Carvalho